DE HARÃ A CANAÃ

“Esta é a história da família de Tera:

Tera gerou Abrão, Naor e Harã. E Harã gerou Ló. Harã morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal, quando ainda vivia Terá, seu pai. Tanto Abrão como Naor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era Sarai, e o nome da mulher de Naor era Milca; esta era filha de Harã, pai de Milca e de Iscá. Ora, Sarai era estéril; não tinha filhos.

Tera tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de Harã, e sua nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e juntos partiram de Ur dos caldeus para Canaã. Mas, ao chegarem a Harã, estabeleceram-se ali. Tera viveu 205 anos e morreu em Harã.

Então o Senhor disse a Abrão: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha 75 anos quando saiu de Harã.” Génesis 11:27-32, 12:1-4 (NVI)

Passa habitualmente despercebido, que o início da chamada de Abraão, incluiu o pai. O livro de Génesis explícita que foi Tera, o pai de Abrão, que decidiu partir de Ur, com intenção de ir para Canaã, mas acabou por viver e morrer em Harã [1].

O que houve em Harã, para impedir esta família de continuar até ao seu objetivo inicial?

Localizada nas margens do rio Eufrates, na rota de comércio que ligava Nínive [2] e a base militar Carquemis [3], esta região era próspera e um centro de adoração ao deus Sin [4], o deus sumério da lua, também cultuado em Ur dos Caldeus.

Ora aí está! Ambição e idolatria, uma dupla fatal!

Parece-nos estranho que Abrão tivesse sido um dia, um politeísta e adorador de falsos deuses, mas tal como Deus o chamou para abandonar as crenças religiosas para chegar à verdadeira fé, também HOJE, Deus nos chama de Harã para Canaã, das CRENÇASà FÉ.


Vamos descobrir como.

Abrão obedeceu a um chamamento insólito, “O Senhor disse a Abrão: «Deixa a tua terra, os teus parentes e a casa do teu pai e vai para a terra que eu te vou mostrar.”, com uma promessa extraordinária, “(…) «e através de ti serão abençoados todos os povos do mundo.»”  Génesis 12:1-3 (BPT)

A fé autêntica exige que os cristãos “saiam de onde estão enraizados, daquilo que é óbvio e seguro, e entrem no deserto sem explicações racionais que justifiquem as suas decisões ou deem garantias para o futuro.” [5] Porquê? Há uma diferença fundamental entre CRENÇAS e FÉ. Até os demónios creem (Tiago 2:19), no entanto não se submetem! Não basta dizer que se crê em Deus, a nossa vida, as nossas decisões devem ser uma expressão visível da nossa fé, caso contrário o nosso testemunho é vazio e sem poder.

Por vezes, as crenças que herdamos de família, cultura ou tradição eclesiástica, não são mais do que grilhões na mente, que nos prendem a sofismas, ilusões e, alguns, até a heresias. Parafraseando John Bevere, “Tenho de ler o que a Bíblia realmente diz e não aquilo que eu penso que ela diz!”.

Se as nossas crenças não estiverem fundamentadas numa experiência radical e transformadora de uma vida com Cristo, então morreremos Harã, como Tera. Imóveis, temerosos, sem crescimento e sem frutos. Esse lugar de crenças estéreis é a expressão da incredulidade e não da fé!

Ao longo de 40 anos de caminhada com Jesus, tenho observado muitos crentes que permanecem na imaturidade da ofensa, no mundanismo das prioridades de vida, na ausência de qualquer desejo de edificar o reino de Deus na terra, explorando vantagens apenas para “o seu reino e umbigo”, sem discernimento dos tempos e das profecias.

Jesus demanda da Sua Noiva que se posicione! 

A viagem de Harã a Canaã é inteiramente pessoal. Cada um de nós deve comprometer-se a cumprir a sua chamada, ainda que a FÉ autêntica exija sacrifícios e provações. Jesus anseia que desabrochemos e vivamos uma plenitude de vida que expressa a fé bíblica, e que, tal como Abraão, abandonou as falsas imagens das crenças passadas, pelo dom da fé verdadeira.

Este “é um convite à fé autêntica e a um discipulado radical, à pureza do evangelho (…) a uma vida de liberdade sob a assinatura de Jesus” [6].

Aceita o desafio?


[1] HARÃ – “Pensa-se que Harã tenha sido fundada por colonizadores de Ur, mas foi dominada pela Assíria, e durante muito tempo serviu como uma capital provincial do Império Assírio. A cidade foi fortificada e resistiu até depois da queda de Nínive, tornando-se uma espécie de última capital da Assíria antes de ser dominada pelos babilónios em 609 a.C..” Por Daniel Conegero

[2] NÍNIVE – “Nínive é primeiramente mencionada em Génesis 10:8-11. Nínive era uma junção importante para as rotas comerciais cruzando o Tigre. Ocupando uma posição central na grande estrada entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico, assim unindo o Oriente e o Ocidente, recebia a riqueza que fluía de várias fontes, tornando-se logo uma das maiores cidades da região.” In https://pt.wikipedia.org/wiki/Nínive

[3] CARQUEMIS – “O local da antiga cidade de Carquemis ou Karkamis, chamado atualmente de Jerablus, situa-se na fronteira entre a Turquia e Síria, aproximadamente a 100 km o NE de Alepo. Pela sua localização geoestratégica, foi uma importante cidade comercial e base militar na parte superior do Rio Eufrates.

Escavações feitas no local da antiga Carquemis, revelaram um grande número de documentos no idioma hitita. Pertenceu durante aproximadamente dois séculos durante a segunda metade do segundo milénio a.C. ao Império Hitita.

Depois foi conquistada pelo rei Sargão II da Assíria, que governou entre 722 e 705 a.C., e uma inscrição relata que nessa altura chegou-se a pensar para transformá-la na nova capital do reino. Mas os seus herdeiros não se interessaram por tal plano. Também foram achados vestígios arqueológicos indicando uma forte influência egípcia.” In https://pt.wikipedia.org/wiki/Carquemis

[4] SIN – “(…) deus sumério e babilónico da Lua. (…) Era casado com Ningal, tendo como filhos Shamash (ou Utu) e Inanna (ou Ishtar). Formava com eles a tríade que representava o Sol, a terra e a Lua, principais elementos da natureza. (…) Representava-se usualmente como um homem idoso de barba, tendo como símbolo um crescente de Lua. A sabedoria é associada a este deus por ter inspirado a formação da astrologia. Todos os meses este deus descansava no mundo subterrâneo, onde decidia o destino dos mortos.” In https://www.infopedia.pt/sin

[5] MANNING, Brennan, A Assinatura de Jesus, Ed. Vida, 2014

[6] Ibid.

DE HARÃ A CANAÃ, Por Sandra Rosa

Comentários

  1. "tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno."
    Efésios 6:16

    A Palavra de Deus já nos ensina a apagar os dardos inflamados do maligno. Escusado é orar a Deus e repreender todos os dardos inflamados do maligno, se quando estes vêm eu os aceito e os deixo proliferar na mente. Como diz a reflexão neste blog, a idolatria e a ambição. Cada vez que preferimos a mercadoria do diabo ficamos estagnados, mais oxidados do que uma maçã ao sol. Se nós temos este ensinamento na Palavra, que nos ensina a apagar as falácias do diabo, porque nos deixamos ir?....

    Muito boa reflexão sobre o chamado de Abraão que li neste blog!

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    1. Muito obrigado pelo comentário Sandro Marinho, espero que possa subscrever o blog e recomendá-lo aos seus amigos! As bençãos de Deus sobre a sua vida.

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